A todo momento somos chamados a escolher entre uma ou outra atividade, entre uma atitude ou outra. E essa decisão vai ser de acordo com a consciência que temos e a nossa prontidão em fazer a vontade de Deus no momento presente. Assim, a escolha de Deus é estritamente pessoal, independente do outro e apesar dele. É uma convicção pessoal que vai direcionar toda a vida desde as mais simples ações e tarefas, até os maiores empreendimentos.
É verdade que precisamos fazer a escolha de Deus desde as pequenas coisas e não apenas nas grandes... Porém, a filosofia do mundo, muitas vezes, mascara o valor das opções que fazemos pois nos acostumamos a achar "normal" coisas que nem sempre são éticas ou morais.
Os exemplos não são difíceis de encontrar:
- Maria encomendou um bolo de 4 kg e pagou caro por ele. Para sua surpresa, em casa, percebeu que ele não chegava a pesar 3,600 kg...
- Rosalvo foi à farmácia, comprou os medicamentos e, muito rápido, viu que o troco estava errado - para mais. Calou-se e embolsou-o alegremente...
- Tininho, vindo da escola, chegou em casa com um estojo diferente e novo. Sua mãe achou que o menino estava ficando muito esperto, ao saber que havia encontrado o objeto no pátio da escola e guardado na bolsa. "Afinal, achado não é roubado..."
- Dorival foi ao mercado comprar café, mas sua marca favorita estava muito cara, então, trocou a etiqueta com a de uma marca inferior de café, mais barato...
- Joelma foi ao açougue do supermercado e pediu coxão mole, avisando que não queria o começo da peça porque não dá bom bife. O açougueiro informou que só havia peças fechadas e ela então resolveu comprar outro tipo de carne. A pessoa seguinte da fila chamou Joelma a parte dizendo: "Não seja boba, não. Peça para ele cortar o começo da peça em um único pedaço e embrulhar. Depois peça a quantia que quer, em bife. No caminho para a caixa, deixe o pacote que você não quer em uma prateleira qualquer e pronto, resolve o seu problema." E completou a "brilhante solução" argumentando: "Afinal, eles cansam de roubar a gente, colocando o preço que querem nas coisas, mesmo..."
- Cristian trabalha em um banco e é o responsável no setor de empréstimos. Não se cansa de "contabilizar" os presentes que recebe pelos empréstimos concedidos - apenas, é claro - àqueles que podem retribuir à sua "concessão". Não importa que faz "favores" com o chapéu dos outros, importa é que pode tirar vantagem do seu cargo.
Esses poucos exemplos mostram muito bem como, no dia-a-dia, podemos acolher ou não, Deus nas nossas vidas. Isso, sem falar naquelas atitudes que nos levam a tirar vantagem de certas situações, como por exemplo, furar fila no cinema, na padaria; jogar lixo em terreno baldio; levar o cachorro para passear sem importar que ele faça suas necessidades na rua e suje a calçada alheia, etc. Talvez, neste momento, você que lê, possa até estar sorrindo intimamente e pensando "que bobagem, essas coisas são corriqueiras, todo mundo faz..." Essa reação e tais comportamentos, traduzem bem o pensamento mundano, baseado no nosso comodismo.
Mas o cristão é diferente, tem que ser diferente!
Ele tem que ter a coragem de fazer o que os outros não fazem e não fazer o que os outros fazem, mesmo que ele seja o único entre cem. Tem que ir contra a corrente e assumir o cristianismo: ser cristão como um estilo de vida.
Se ser cristão é escolher e acolher Deus na vida, isso só acontece se não cedermos ao pensamento do mundo, se levarmos a sério o nosso estilo de vida. Na nossa mente deve estar sempre a indagação: com minha atitude, alguém será prejudicado? É que para cada coisa que fazemos, na outra "ponta da linha" está alguém que será envolvido positiva ou negativamente. Se encontro algo que não é meu e guardo, alguém ficará sem o que encontrei. Se levo o cachorro para passear e ele faz suas necessidades na rua e não me preocupo em limpar, alguém terá de fazê-lo. Se largo a carne na prateleira do mercado, ela se estragará e alguém terá pago já por ela, tendo prejuízo. Se me calo diante do troco errado, provavelmente no final do dia ao fechar o caixa, alguém terá que repor o dinheiro embolsado. E assim por diante...
Toda e qualquer ação nossa, gera para outros, conseqüências...
A escolha é de cada um. Se escolhemos pautar nossa vida pela honestidade de princípios, pelo amor ao outro, Deus estará sempre presente. Caso contrário, é preciso acordar...
Amar a Deus é, concretamente, amar o próximo. Significa obedecer as regras de convivência social, defender e promover a vida humana, controlar nossos instintos, colocar nossos bens, nossos dons, a serviço dos irmãos; tomarmos sempre o partido da verdade, da justiça, mesmo quando isso nos custa muito.
É essa a maneira que Deus quer que O amemos. Seria um esforço inútil, pretender amá-Lo de outra maneira. Isso fica muito claro na mensagem de Jesus, que pode ser sintetizada em dois pontos: somos filhos do único Pai celeste, portanto, somos irmãos uns dos outros. "Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração" e "Amarás o teu próximo como a ti mesmo".
Para amar a Deus, devemos colocá-Lo em primeiro lugar, deixando-nos guiar por Seu Amor, acolhe-Lo em nossas vidas, abrirmo-nos a Ele na oração, nutrirmo-nos da Sua Palavra e da Sua Graça, para estarmos cada vez mais em condições de testemunhá-Lo, especialmente no serviço aos irmãos - que não se traduz apenas em dar esmolas ou ajudar financeiramente alguém.
Seguir Jesus não é tarefa fácil e Ele mesmo assume esta realidade (Lc 12, 51-52). Diante Dele não se pode ficar indiferente; tem-se que tomar partido, pró ou contra. Não se pode ficar em cima do muro porque, no dizer de Paulo, Jesus veio exatamente para derrubar o muro. Diante Dele tem-se que ser quente ou frio, porque o morno Ele vomita de sua boca (Ap 3,16). Sincero, autêntico e resoluto como é, não aceita subterfúgios e meias verdades. Mais do que uma adesão à Sua Doutrina, Ele exige adesão à Sua Pessoa: "Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, dispersa" (Mt 12,30). Com a mesma firmeza com que diz: "Segue-me!", diz também: "Afasta-te de mim!"
Todavia, fique clara uma coisa: não é Dele a responsabilidade pela não-adesão ou pela rejeição: é nossa. Não foi por Sua Vontade que Ele se tornou pedra de tropeço, mas pela nossa. Cafarnaum e Jerusalém sabem disso (Mt 11, 23-24 e Lc 21, 20-24). E nós também.
Senhor, enviastes vosso Filho ao mundo para salvar-nos; não para condenar-nos. Porém, a salvação não é tarefa só Dele; é nossa também. Ajudai-nos a não desprezar a advertência do Apóstolo: "Trabalhai para vossa salvação com temor e tremor"(Fl 2,12). Amém.